O perigo das dietas da moda

Data de Postagem: 18/10/2018

O que vale para o outro não vale para você: a receita para perder peso é adotar hábitos de vida mais saudáveis, através da reeducação alimentar e a prática esportiva. O único profissional apto a prescrever cardápios é o nutricionista.

Com o verão se aproximando, muita gente recorre a dietas milagrosas para perda rápida de peso. O problema é que, além de serem muito restritivas e não incluírem todos os nutrientes necessários para uma boa saúde, a perda de peso não é efetiva. O resultado, muitas vezes, é que a pessoa volta a engordar.

“É preciso ter muito cuidado quando se olha uma nota em capa de revista ou na internet dizendo que é possível ‘secar’ em sete dias. Os riscos de seguir uma dieta sem orientação são inúmeros: uma restrição alimentar mais severa pode levar a carências nutricionais, falta de energia e concentração, depressão do sistema imunológico, alterações de humor, entre outros prejuízos à saúde”, explica Mara Fontinha, nutricionista clínica e esportiva.

Segundo a profissional, manter o peso perdido ou ideal não tem segredo. Os resultados de mudar hábitos e comportamentos, aliando uma dieta equilibrada e rica em nutrientes à prática regular de exercícios, não têm data pra terminarem.

“Uma pessoa que começa a mudar hábitos de vida, com uma alimentação mais saudável e equilibrada, e inicia uma prática de exercício de forma regular, conseguirá manter o seu peso ideal de uma forma mais natural, sem se submeter a dietas restritivas que geralmente não são possíveis de serem seguidas a longo prazo, e os quilos perdidos muitas vezes são recuperados”, diz.

Em tempo de influenciadoras digitais, seguir a dieta de celebridades é perigoso. “Um ajuste nutricional e o planejamento alimentar devem sempre ser individualizados de acordo com a rotina, preferências, objetivos e necessidades de cada um. O que é adotado pra uma pessoa não serve para outras”, ressalta. O nutricionista é o único profissional habilitado a prescrever dietas, bem como realizar assistência e educação nutricional.

Com a palavra, a nutricionista

Conheça os riscos das dietas da moda mais comuns, segundo a profissional Mara Fontinha, que de quebra montou uma sugestão de cardápio saudável, equilibrado e rico em nutrientes.

Dieta do Dr. Atkins (Dieta das Proteínas)

O QUE É: Propõe redução radical do consumo de carboidratos (massas, pães, doces, açúcares). Libera o consumo de carnes (principalmente vermelha), ovos, maionese, manteiga, gorduras em geral. Tem cerca de 1.000 kcal/dia, sendo que praticamente metade das calorias provém de gorduras.

Comentário: “Essa dieta rica em proteínas e gorduras parte do pressuposto de aumentar a saciedade e reduzir a secreção de um hormônio chamado insulina, liberado quando há consumo de carboidratos. Com isso, pode ocorrer uma redução de peso corporal, porém, não necessariamente redução de gordura corporal, que são coisas diferentes. Não acho saudável ter como base uma alimentação rica em proteínas e gorduras, uma alimentação saudável sempre é equilibrada e diversificada”.

Dieta Dukan

O QUE É: aumentar o consumo de proteínas, reduzir a ingestão de outros nutrientes e dividir a mudança alimentar em quatro etapas (a primeira faria emagrecer seis quilos em quatro dias). Dukan faturava 100 milhões de euros por ano com a venda de livros, produtos e palestras até o Conselho Federal de Medicina da França cassar sua licença e proibi-lo de exercer a medicina no país. Motivo: fazer promoção comercial de seu regime.

Comentário: “Se trata de uma dieta bem restritiva, parecida até com dieta do Dr. Atkins, com uma base de maior proporção de proteínas. A promessa de emagrecer seis quilos em quatro dias é longe de ser saudável. Na verdade, a pessoa desidrata, perde muito líquido pela restrição de carboidratos e ainda pode aumentar a possibilidade de infiltração de gordura no fígado, pelo emagrecimento rápido”.

Dieta do low carb

O QUE É: Redução drástica de carboidratos na dieta. Em uma dieta tradicional, indica-se que de 55 a 65% das calorias consumidas diariamente sejam de fontes de carboidratos. Na low carb, de todas as calorias ingeridas no dia, só de 20 a 40% deveriam vir do famigerado nutriente. Segundo o Google, foi a dieta mais procurada em 2017 pelos brasileiros.

Comentário: “A dieta low carb, ou com baixo teor de carboidrato, possui variações em diferentes porcentagens da proporção deste nutriente, porém não se tira o carboidrato por completo da alimentação. Pode ser interessante para indivíduos que precisam tratar uma patologia específica como diabetes, ou quando os níveis de açúcar no sangue estão alterados e é necessário melhorar a qualidade do carboidrato ingerido. É uma dieta em que sua proporção pode ser ajustada de acordo com as necessidades individuais e objetivos, porém não vejo necessidade em reduzir menos que 40% do carboidrato da dieta, visto que é um macronutriente imprescindível para gerar energia, manter estoque de energia no músculo e é o combustível preferencial do cérebro”.

Dieta paleolítica

O QUE É: Para segui-la, limite-se a comer como um homem das cavernas, eliminando alimentos industrializados, laticínios, legumes e grãos (que só passaram a ser cultivados em uma época posterior ao Paleolítico). É rica em carne, frutas, castanhas e verduras.

Comentário: “A restrição e redução do consumo de alimentos industrializados impostos por essa dieta até tem seus benefícios – o consumo de frutas, castanhas e verduras e carnes oferece um bom aparato de macro e micronutrientes. Porém, novamente, caímos em restrições de legumes, laticínios e grãos. Ou seja, não é uma dieta diversificada”.

Dieta dos pontos

O QUE É: nessa dieta, a pessoa controla os pontos ao invés das calorias dos alimentos. Cada ponto corresponde a cerca de 3,6 calorias, baseado no seu valor nutricional. A pessoa deve anotar o que come durante o dia e fazer o somatório, que não deve passar de 300 para as mulheres e 400 pontos para os homens.

Comentário: “Nesse caso, não se olha a qualidade e a oferta necessárias de nutrientes, se olha a quantidade. Pode ter pessoas que irão preferir uma sobremesa no almoço, por exemplo, já extrapolando os pontos da refeição. Não acho saudável, pois a quantidade se torna mais importante que a qualidade”.

Dieta Detox (7 dias)

O QUE É: Sucos, chás, sopa, shakes, alimentos ricos em fibras, castanhas, cereais e água morna com limão em jejum.

Comentário: “Optar por uma dieta líquida e/ou com tantas restrições pode causar depressão do sistema imunológico, queda dos níveis de energia, concentração, alterações intestinais e por aí vai. Não acho que seja o caminho e nem que exista um alimento milagroso em si que seja detox”.

Dieta da USP

O QUE É: Apesar do nome, essa dieta não tem nenhuma relação com a Universidade de São Paulo. Ela possui um cardápio padrão de uma semana, sendo repetida uma vez. Deve ser seguida rigorosamente em seus alimentos e horários. Utiliza principalmente carnes e ovos, e frutas e vegetais.

Comentário: “Se trata de uma dieta bem restritiva, em que há eliminação de fontes de carboidrato e redução brusca de calorias. Os prejuízos à saúde podem ser inúmeros: grande eliminação de líquidos por conta da redução de carboidratos na dieta, que fica restrita em energia, monótona e, mais uma vez, com riscos de baixa no sistema imunológico, falta de energia e concentração para atividades diárias, sem contar a promessa de perda de peso rápido que muitas vezes é recuperado com alguns acréscimos”.

Dieta da Sopa

O QUE É: Geralmente a sopa indicada é feita com uma variedade enorme de legumes e verduras, e em algumas receitas tubérculos, sem fontes de proteína.

Comentário: “A sopa é uma refeição maravilhosa, pode ser incrementada com verduras, leguminosas ou carnes, o que traria um aporte protéico interessante, porém caímos novamente na monotonia. Comer sempre o mesmo tipo de alimento pode ser arriscado à saúde, o mais importante é variar e equilibrar”.

Dieta Mediterrânea

O QUE É: Possui como base carnes magras, como peixes, que são fontes de boas gorduras, grãos integrais, castanhas, frutas ricas em antioxidantes e azeite de oliva.

Comentário: “A dieta mediterrânea é objeto de muitos estudos científicos, pois já é sabido que populações que vivem nos países banhados pelo mar mediterrâneo possuem melhores índices de saúde e qualidade de vida. Possui como base alimentos que promovem uma boa saúde. O vinho, consumido moderadamente, é rico em resveratrol, um antioxidante potente. Ter esses alimentos como base de uma alimentação pode ser muito saudável e interessante do ponto de vista nutricional.